Penso, às vezes, que somos excessivamente iguais. Penso que entre Freud e Lévi-strauss, entre urbano e democrático, viramos um punhado. Céus, até nossas crises são iguais, nossas tristezas, medos. Nossas músicas. Nossa arte. Odeio ser igual, talvez em todos os sentidos. Talvez não, não sei. Não posso odiar, digo-me. Ou dizem-me, sei lá, veja como quiser. Afinal, o problema é sentir-me igual por dentro e por fora. Ser igual sendo diferente. Ter que aceitar o fato de que somos todos diferentes, e nisso iguais. E daí mais uma das rotineiras crises, de que tanto ouvi em mim e outrem. É um tal de "não me encaixo nesse mundo" pra cá e "me sinto tão sozinho" pra lá. Um mundaréu de tristezas urbanas e depressões freudisíacas. Sim, freudisíacas. Quase poéticas. O que me insatisfaz é rolar, assim, rotineiramente, com meus problemas tão comuns querendo ser diferentes, pensando ser únicos. E isso é ser humano? Ter problemas comuns que se sentem, como diriam os americanos, exquisits? Porque sim, a melhor palavra seria esquisito. Talvez. E talvez seja, no fim das contas, a similaridade e não a diferença que causa o que rotulamos por problemas públicos. Vá lá guerra, violência urbana, o que você quiser. Penso assim: se fulano me assalta não é porque somos excessivamente diferentes, ele lá na favela, eu cá no condomínio, mas porque somos iguais. Temos, hora ou outra, os mesmos problemas, os mesmos pensamentos, os mesmos anseios e, hora ou outra, tudo isso colide e se antagoniza. Antagonizamo-nos pelas igualdades, se quiser. Afinal, já somos um punhado, por que não embutir um punhal? Por mais liricamente ignóbil que possa soar o trocadilho. Queria mesmo era me libertar dessa cadeia viciante de pensamentos e reflexões que me fazem, digo-me, humano. Talvez abrir mão de um punhado de humanismo, humanitarismo e qualquer outro lato senso do politicamente correto para ver se encontro aí um humano. Pena que, de novo, sou um punhado de lato senso. Penso que devo concluir ser inútil. Afinal, há quem tenha teorizado até o pensamento. Estou, então, destinado a uma prisão de pensamentos encadeados, encadernados, que me movem, tornam-me tão humano e tão (ignobilmente) vão. Ignóbil, por fim.
Aí, então, sou eu:
Uma estrofe que se estufa de som,
Que se sabe ruído,
Deseja-se tom
E morre de tanto inspirar.
Aí, então, sou eu:
Uma estrofe que se estufa de som,
Que se sabe ruído,
Deseja-se tom
E morre de tanto inspirar.
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