Conta-me as tuas verdades!
Se quiseres conto as minhas primeiro.
Mas logo aviso:
Elas são perigosas.
São destruidoras de lares
E seus confortos;
São inimigas da própria verdade
Num conflito interno
De se inteirar em paradoxo
Que pode corroer tuas entranhas
E derreter tua mente.
Porém, se te sentes pronto
Para o deserto em sua vastidão,
Vem ouvir o sopro das dunas
No canto frio da lua.
Logo vês que pinto uma imagem de beleza
Para adornar o rosto
Das minhas palavras.
Pinto-as com cores vivas
Como a uma caveira
No Día de los Muertos.
Minhas verdades são, afinal, de morte;
Violentas por natureza;
Elas pregam os sentidos ao seu vazio
E os deixam ali, acometidos de fim.
Elas dizem que os significados
Não são intrínsecos à vida
E enxergam as falhas
De todas as outras verdades
Que as ousam contraditar.
Minhas verdades são cruas
E até cruéis
Quando tiram de ti a magia
E te negam a razão
Notando em ti o irracional
E a torpe pequenez do explicável
Em linhas curtas
Que vão do nascer ao morrer
E pairam no interior
De todo e qualquer humano
Que nessa Terra tentou se significar.
Minhas verdades veem a linguagem
Que se acredita completa
Nas falas inconcretas
Com que te enganas;
Elas enxergam o vazio
Enorme e devorador
Desse nosso Universo em silêncio
E angustiante torpor.
Minhas verdades são o próprio medo
Que acomete as mentes
De tempos em tempos
Quando mergulhadas no animalesco primal;
Quando se questionam
Por que não há motivos a nos guiar.
Minhas verdades são pouco gentis...
Mas eu as pinto de cor
Não só para facilitar sua dor;
A tinta não é só a bruta cobertura do nada:
Ela é a própria compreensão
De que o valor é a casca que construímos
Como bem entendemos
Sobre a brancura do crânio.
É a verdade que diz
Que o sabor da vida
Está na criação
Do que quer seja a nossa intenção;
Está no colorir desimpedido
Em que nos iludimos,
E na aceitação da ilusão
Não como algo vazio e obscuro,
Mas sim como o brilho da existência -
O sopro do próprio mundo.
As minhas verdades não são para todos, eu entendo.
Portanto rescindo-as ao deserto
Onde fito a imensidão do silêncio
Sabendo das estrelas:
De suas mortes distantes que ainda reluzem.
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