segunda-feira, 23 de maio de 2011

My Beautiful Dark Twisted Fantasy

O álbum mais louvado pela crítica em 2010 foi, inegavelmente, o mais recente lançamento de Kanye West, intitulado My Beautiful Dark Twisted Fantasy. Realmente, é um trabalho incomparável. Em minha opinião, West e Janelle Monáe, com seu The ArchAndroid, estabeleceram o parâmetro para a música do século XXI. O nome da obra já diz tudo: trata-se de um longo devaneio introspectivo, buscando a beleza e o horror do artista, ao mesmo tempo em que trilha o universo urbano da contemporaneidade americana.
Este é um álbum de decadência: extravia a podridão da alma imersa num mundo de riqueza material e hedonismo puro ao mesmo tempo em que busca apoiar-se num resquício de esperança - o que resta de glória. A liricidade das faixas passa por inúmeras referências culturais, desde os primórdios do hip hop até o racismo e a violência doméstica.
O álbum é fruto de um exílio a que West levou-se após uma série de controvérsias e problemas com a mídia. Abalado pela reação a casos como o dos Video Music Awards de 2009, em que subiu no palco para reivindicar para Beyoncé um prêmio vencido por Taylor Swift (o de video feminino do ano), o rapper entrou num processo de severa auto-reflexão e auto-crítica, resultando numa nova abordagem musical latente na estética de My Beautiful Dark Twisted Fantasy. Ao mesmo tempo, nota-se a constante compreensão do mundo sob a ótica de um ser urbano. Há uma clara sensação noturnal de cidade grande; referências a bacanais, prisões e riqueza material indicam neste sentido.
O resultado é poderoso: revela os anseios e agonias de um indivíduo imerso numa realidade liquefeita, cosmopolita e amoral por excelência. Músicas como Lost in the world e Runaway tornam esta sensação explícita, misturando perdição e amor enquanto o artista fala com o coração dolorido e confuso. Egocentrismo, narcisismo e auto-exaltação misturam-se, como resultados psicológicos de toda a tensão, a esta fórmula para tornar um trabalho já complexo ainda mais requintado através da contradição.
Musicalmente, o álbum é denso: piano e sintetizadores eletrônicos destacam-se numa atmosfera dançando entre o fúnebre e a balada. Claro que cada música enfatiza um ou outro, mas há uma mistura razoavelmente equilibrada (o que, podemos induzir, reforça a contraditoriedade da obra). Devemos ressaltar, neste ponto, a faixa All of the lights, cuja textura foi produzida com os vocais de doze grandes artistas, entre eles Elton John, Fergie, Alicia Keys e John Legend. O propósito era justamente criar uma sensação musical única, com várias camadas compostas por grandes vozes da história da música.
As faixas são unanimemente grandiosas, o que torna destaques especialmente difíceis. Sugiro, para abordar as faixas mais acessíveis, num primeiro momento, os singles até agora lançados pelo álbum: Power, Runaway, Monster e All of the lights, mas Hell of a life, Dark fantasy e Lost in the world também merecem destaque.
Estou ciente que, por ser um álbum de hip hop com raps pesados e carregados de palavrões, talvez não apeteça todos os ouvintes, mas peço, neste caso específico, àqueles que se disporem, que tentem abrir uma exceção, ao menos para conhecer o lado profundo e mais analítico deste estilo musical, tão bem desenhado por Kanye West.

Título: My Beautiful Dark Twisted Fantasy
Artista: Kanye West
Lançamento: 22/11/2010
Gravadora: Roc-A-Fella, Def Jam
Produtores: Kanye West, Jeff Bhasker, DJ Frank E, Emile, Lex Luger, Mike Caren, Mike Dean, No I.D., The RZA e S1
Gênero: Hip hop
Faixas - Duração:

1. Dark fantasy - 4:40
2. Gorgeous - 5:57
3. Power - 4:52
4. All of the lights (Interlude) - 1:02
5. All of the lights - 4:59
6. Monster - 6:18
7. So appalled - 6:38
8. Devil in a new dress - 5:52
9. Runaway - 9:08
10. Hell of a life - 5:27
11. Blame game - 7:49
12. Lost in the world - 4:16
13. Who will survive in America - 1:38

Avaliação: Ótimo

Nenhum comentário:

Postar um comentário