Lá vem aquela velha brisa passar.
Lava minhas penas ao som das hélices
Metralhando meu flutuar,
Mas mergulha nas minhas entranhas
E como lava ardente,
Sarça que não quer queimar,
Varre minhas vias lisas
Até delas algo plumejar.
Nas nuvens, pois, amansado
Floreio por dentro um grosseiro espinhal
De penas avessas, com suas pontas agudas
De folhas a esverdear.
Ai, como dói essa beleza alada
Planando num fogo espesso,
Mas leve o suficiente para semear
As rasuras de caule que arranham,
Aranham meu esôfago
E labirinteiam o meu respirar.
Não sei quanto do belo e quanto do horror
Aqueles que por perto passam
Olhando esse bicho de asas, de brasas
E folhas noviças entrelaçadas
Conseguem enxergar.
O que pensam do semi-astro
Pairando no céu, soltando chumaços
De penas, galhos e fogo
Que vão caindo, caiando os ares
E se consumindo até sumirem
Como se fossem uma simples miragem.
Talvez nem me percebam lá
Ou me confundam com um resquício de poluição.
É possível, aliás, que estejam certos.
E aí o que creio assombro magnífico
Não passa de vaidade
E as duras penas que a todos impõe essa vida
Nessa cidade.
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