terça-feira, 12 de março de 2013

O conto despetalado do jardineiro



Chega desses amores-perfeitos,
Disse-me Rosa.
Aqui está um copo de leite.
Beba e vá plantá-los,
Ordenou derradeira.
Se parar para pensar,
Na verdade foi bem sorrateira.
Veio olhando torto as flores que eu escolhera
Há tempos, cada vez mais.
Desdenhou-as pacientemente
Até murchar seu jardineiro.
Quero pensar esse jardim
Tão meu quanto dela,
Mas ela desfaz os floreios de revolução
Que brotam proletários na minha mente.
Por fim, é dela. Ela sempre venceu.
E os meus amores-perfeitos
Foram dando lugar aos copos-de-leite.
Agora depois de todo orvalho
Pingam gotículas pelas pétalas leiteiras
E molham o adubo sem cerimônia
Onde antes brilhava o chuvisco
Sobre as minhas perfeitas.
Virou todo dia do jardineiro
Um amargo gosto de leiteiro
Deixando escapar uma lágrima
Por cada amor verdadeiro.

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