segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Curvado

Estou toda turva,
Toda curva,
Miúda e moída,
Dolorida de vida
Que me faz crescer
E de contra-vida
Que me quer vencer.
Estou toda retorcida,
Carcomida
Dos meus próprios
Inglórios vermes;
Estou caleidoscópio
Dos opróbrios
Velhos, óbvios
Que se escondem
Na minha pele.
Estou corcunda e torta,
Toda absorta
Na minha própria massa morta
Enquanto a vida à porta
Grita alto: "pouco importa
Se essa gruta te comporta!
A existência é mesmo assim,
Feito cobra de jardim
Serpenteando pela horta
Sem resposta
Até o fim."

domingo, 26 de dezembro de 2021

Pele

O teu calor me apossa
Quando encosta
Na minha pele;
E eu fico toda exposta
À insolação da tua derme.
A queimadura coça,
Pede mais, gritando: "roça
O mar de fogo no meu leme!
Me navega em labaredas,
Me atroça,
Me lança contra as rochas
Que meu corpo todo treme!"
Tua mão sobre minha coxa,
Na minha nuca,
Pelas costas
É blasfêmia suficiente
Pra ferver toda minha mente
Que te roga pecadora
- Impenitente -
Um arranhado,
Que me deixe aqui marcado
Eternamente
O esfumegado
Dessa tua sarça ardente.

domingo, 12 de dezembro de 2021

Baluarte

Os silêncios e os pedregosos entulhos no caminho
São as sinas que se me intercalam.
Por meio deles meus sinos ora se calam,
Ora clamam os cantos que ecoam
Lamuriosos na catedral de mim,
Oscilando nas velas que brilham
Como oferendas no altar
- Como vagalumes no jardim.
Eu sou a interface da luz com o som,
O encontro entre o tato e o olfato,
A cor que vibra num tom
Que desce entre a língua e o palato
Em puro estado carmesim.
Eu sou a paz do templo
E o furor da monção;
Sou o prazer que alimento
E a graça da extrema unção.
Sou elixir e unguento,
Germinador e rebento;
Sou todas as coisas que tento,
Tudo aquilo a que atento
E, ainda assim, sou o vento:
Sou todo o relento
Por onde sopra a minha canção.
Eu sou a tocha que arde,
A luz que ela alarde
E, ao seu redor, sou a escuridão.
Eu sou o homem que parte,
A casa que fica, o caminho, o estandarte,
Sou os passos que o homem fia
E tudo o que ele vê pela via.
Eu sou, afinal, a íntima parte
Onde residem todos os versos
Que ao fim de seus rumos diversos
O poeta comparte.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

O que Eu sei

(Johnny Hooker - Eu não sou seu lixo)

Em meio a tudo que não sei,
Todas as coisas que ignorei,
Tudo aquilo em que eu errei,
Tudo o que depois eu lamentei,
As mil maneiras pelas quais eu fracassei...
Depois de tudo o que eu passei,
Os caminhos que tomei,
As pedras em que tropecei,
As falhas que esbanjei,
Os pecados que pequei,
Os demônios que mostrei,
As palavras torpes que usei,
As loucuras que expressei...
Apesar de todas as vezes que falhei,
De todas as dores que causei,
Das mentiras que contei,
Dos enganos que criei,
Do ódio que gestei...
A única certeza que eu tenho
É que ninguém jamais amou
Como eu amei,
Nem jamais dará
O que eu dei.
E mesmo se com todo o amor
Eu me machuquei,
A culpa não foi minha
Porque eu me doei.
A culpa é de quem escolheu
Não querer o amor meu
E nem sequer se apercebeu
Do que perdeu.

domingo, 21 de novembro de 2021

The dark night of the mind

Still the night goes by
As time seems both to fly
And wait eternally
Beneath the darkened sky.
Still the bard won’t try
To pluck a soft caressing tune
In this poor silent heart of mine.
The birds won’t chirp,
The poet won’t rhyme,
Nor will the rivers from the moon
Flow with their waters in attune
With my most intimate desire.
Must I – dare I ask –
Remain this way, so never thine,
Lost in a conscious lonely glare
Held yet unshared, forever mine?
In nights like this,
So cold and gloom,
I reminisce of gone-by days
And think of all the better ways
I could have basked in their embrace.
Yet, truth be told,
In days long gone
I also felt without a place,
As if still happiness and grace
Were somewhere else I had to chase.
And though I loved your tender eyes,
And warmed my skin between your thighs,
Still then I felt as if unloved
Beneath the mask of your disguise.
For now I know this night of mine
Hides not the heavens’ sweet design:
‘Tis a darkness that encloses
My own mind – as if thorns could smother roses
And then weep for their demise.
And though today I crave for love
Hoping it comes from high above,
These nights I ask before the gods
That they may bless me
With an even greater fate:
To be unveiled
And, unashamed, released at last
From my own thorns
And this deep everlasting wait.

domingo, 14 de novembro de 2021

Tango Solo

A veces siento que fui yo
Quien salió entero
– O al menos no tan enfermo –
De ti.
Pero hay otros momentos
– Y tantos y tan largos son –
En los que me veo
Aún esposado
A un dolor viejo
Que no se me quita del pecho.
A veces siento
Las paredes cerrándome alrededor
En mi pequeño corazón
Y descubro que no puedo
Salir de soslayo
De mi cárcel de amor y solitud;
A veces me parece que no hay espacio nel mundo
Y, sin embargo, todavía su anchura
Es demasiado amplia,
Y así que no quepo,
Pero también no me puedo apoyar.
A veces pienso
Que solo quisiera volver…
Pero ¿a qué?
¿Qué habrá para mí
En la temprana hora
Del lejano pasado?
¿Qué más que desdicha,
Nostalgia e incertidumbre?
Hay que quitárseme esta contradicción
Que siempre me regresa a la calle
De las vidas perdidas,
Que me encarcela entre deseo y desesperación
Sin dejarme mirar el futuro
Que, así como el pasado,
Se hace demasiado lejano,
Extraviado en lenguajes prohibidos y extraños
Y en cosas que nunca he visto,
Oído o probado.
Mi lengua añora por gustos distintos,
El sabor de otras pieles
Tan más raras y nuevas
Que me puedan hacer olvidar
Y tener nueva vida;
Añora por tener nuevos sudores
Corriendo en mis entrañas,
Que me hagan un nuevo extrañar
– Un que sea tan vivo y ahora
Que me deshaga
Y, conmigo, mis corrientes
Y yo pueda en fin respirar.

sábado, 6 de novembro de 2021

Perder-se

Já disseram muitas vezes
Que é preciso primeiro se perder
Para depois se encontrar.
Mas pouco ouvi dizer
Da beleza e da necessidade
Que também há no movimento
De primeiro se encontrar
Para depois poder se perder.
Pouco dizem que há muitas formas de perder-se
E que algumas não são de perdição.
Perder-se é soltar os arreios,
É deixar a estática do encontro;
Por isso, ao desencontrado
Pode trazer desespero,
Mas àquele que está encontrado
É leve como expirar.
E, como na respiração,
Perder-se é preciso
Para não sufocar:
Não basta agarrar-se a si mesmo
Se o ar se gasta e arrefece
E o tempo passa
E a vida acontece
E ainda há perdido no mundo
Tanto ar para se tragar.
É preciso saber perder-se
Para de novo poder inspirar.
São poucos, é verdade,
Que cantam o desencontro,
E é compreensível o porquê.
Encontrar-se traz vida e conforto,
Traz coragem para o confronto
E força para lutar.
Já o desencontro recorda
Que se é finito,
Pequeno, fraco e frágil
E nada se sabe do mundo -
Perder-se parece um desalento.
Mas, ah... O que seria do sopro
Sem o vento?
O que seria do corpo
Sem o relento?
O que seria do Eu
Se não se desfizesse
E escorresse nos rios,
Descesse os vales,
Escoasse nos mares,
Subisse aos céus
E novo chovesse?
Perder-se é um segredo
Que só se revela difuso
Nas cordas do tempo,
Que só se descobre vivendo,
Encontrando-se e sufocando
Até que se esteja disposto
A desaprender.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Il Verso della Verità

Meu caminho é em verso:
Que não me olvide.
É imerso em razão
Mas divento em vazão
E reflexo das dores vãs
Que terçãs me deliram
Ao encontro da verdade.
Verità delle verite,
Tutto è verità.
E questa linea che mi consuma,
Anche lei finirà.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

El Camino del Olvido

(Max Richter - Fragment)

Veo a lo lejos
Bajo la lluvia y la neblina gris
El dibujo de un camino.
Pero se hace tan borrado
Ante mis ojos
Que ya casi no creo en él.
Sin embargo, ¿qué hacer?
Habré que creer en mí
Y en las montañas
Lejanas y verdes
Ocultas detrás del visillo
Que sobre mis ojos
Yo mismo he querido poner.
Hay que creerse en sí
– Aunque uno sea su peor enemigo –
Y, creyéndose uno indiviso,
Tirarse al rumbo del desconocido.
La vida no es más que el engaño
Bien dicho y convencido
Y, aún si aterrorizado,
Escurrido en los campos
Mirando el camino,
Cayendo en errores
Hasta que el sudor cale fondo en la tierra
Haciendo laberintos por sus entrañas,
Y luego un nuevo camino sea drenado en el suelo
Con los agujeros excavados por ti en tu guerra.
Y entonces tú mirarás
El campo de batalla
Que has dejado atrás
Y ni siquiera sabrás
Que ha pasado,
Porque, haciéndote vida,
Dicta la vida
Que olvidarás
Y quedará solamente
El lejano recuerdo
De un día de lluvia y neblina
Que extrañarás.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Flor de Vidro

Conta-me dos teus espinhos, pequena flor de vidro,
Que sobem à epiderme
Quando a noite é fria
E o amor não aquece.
Conta-me porque com as palavras
Exaladas no teu suspiro
A dor esmorece
E no processo eu fico a ver
Teu mais profundo ser
A emanar poesia como água quente
Que vaza dos poros
E cobre teu corpo de vida,
Da tua beleza única
Que escapa de cada canto
Do teu florear.
E enquanto eu admiro teus olhos,
Tua boca,
Teus braços,
Toda tua folhagem a se revigorar,
Lembro de quando era eu
Que com meus espinhos de vidro
Andava trincando
E tu me vieste salvar.
E neste momento a lua
Aparece, enfim, à janela
E todo o teu ser brilha
Como um espelho estrelado
Lavado de chuva e poesia.
E eu fico a me ver refletido
Em teu ser trincado e selado,
Florido e espelhado,
Poetizado de beleza da cabeça aos pés
E lembro quão raro,
Quão incompreensível e inestimável é
Que nos tenhamos encontrado.

sábado, 9 de outubro de 2021

Jazmín

Cuando veo el mundo sucio y roto
Y enseguida miro mis manos,
Me parecen demasiado límpias.
Me parece que he dejado
Mi vida quedarse
Lejana y reclusa,
Y así que yo
Y mi revolución
No somos más que la sal
Del desierto vacío,
Arenoso y airoso
Con olor de jazmín.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Algodão-doce

(Troye Sivan - Angel Baby)

Eu e os meus
Somos, a princípio, de algodão-doce:
Angelicados e macios
Eclodimos nas nuvens cor-de-rosa
Uterosas
Überfantasiosas.
Até que as nuvens se aproximam
Se azulam e escurecem
Endurecem
E padecem de si
Lacrimosas
Fumegantes
E despencam rasantes;
E eis, então, o barranco escorregadio
Onde de tanto chover
Fizemos nossa cova.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Midlife Dream

These days I feel like dreaming,
But the dream won't seem to come.
I stay alight all night in waiting...
Just waiting to be ripe
And fall away -
Far, far away -
From all that I've become.
But still the branch won't let me go;
This burning winter night
Won't let the dark cover my eyes
With a grip so deep and tight
Filled with wonder and disguise
So that my dream may take its flight
And let my seed spring far from sight
Spreading roots in freedom's rise.
Oh how I long just to be free
From myself
And all my cynical,
Dark, twisted, deeply woven lies.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Como en Niño

La gente somos laberintos
Cuyas calles sus bases las echaron
Otras gentes y otros síntomas
De causas más antiguas,
De raíces ancestrales
Que heredamos al hacernos
Gente misma en la caldera de la vida.
Somos laberintos de ciudad,
Chabolas de colores vivos,
Sonidos de rincón,
Alboroto de multitud
Que irrumpe en ecos galopantes
Por las piedras de las vías
Hasta hacer estremecer la tierra misma
De mi débil desear.
Y así que, buscándome en los pasillos
Tallados al aire libre,
A menudo me pierdo de mí,
Aunque, por supuesto, en mí esté.
Todavía hay esquinas
Que yo no supe girar;
Aún quedan ventanas
Que no logré encontrar.
Y luego caminando,
Intentando oír la mar
Por debajo de las nubes
De mí propio azul cantar,
Voy buscándome las rimas
Y mi ritmo al declamar.
Y aunque encuéntrelos tan frágiles,
Sencillitos y arcaicos,
Todavía cantaré su marcha de infancia;
Quizás haciéndome como en niño
Encuentre mi camino;
Y escuchando como antaño
La canción de mi ruido,
Puede ser que haga mi rumbo
Y hasta llámelo “destino”.

domingo, 29 de agosto de 2021

Lightning Star

Gazing at my ceiling,
The window tightly closed,
I think about the stars
And those wonderstruck guitars
That I once thought drove my soul.
And I cannot help but ponder
How my mind is filled with yonder
And its crippling agened toll.
I contemplate the beauty
Lying hidden under duty
And the chains I call my role.
I contemplate the freedom
Left untouched in the arboretum
As if silencing the wind's hum
Could then save me from its cold.
Oh, but safety's curse is darker,
Far more crippling, so much sharper,
In its deep unflinching hold.
The ceiling doesn't sparkle,
Neither sings, nor does it startle,
Only answers with its charcoal
Collored silence sevenfold.
Alas, my wish for nothing
Has brought me back to wondering
About those distant lightnings
Burning high above my window
With their everlasting glow.

sábado, 14 de agosto de 2021

Canción del Amor Lejano

(Céline Dion - Nature Boy)

Desde cuando el amor ha dejado
Los sitios más obvios de mi vida –
Como los pisos leñosos de mi habitación
Que él antaño tocaba con tiernos chasquidos
Al calentaros con su luz temprana y blanda –,
También se ha ocultado de mis palabras
En lenguas distintas.
Y ahora él se hace
Como los rayos solares que,
Hallando cerrado el visillo,
Llevan sus tacones hasta los pisos vecinos
Que estallan lejanos,
Aún que cercanos el suficiente
Para hacer caldear los ventrílocuos fríos de mi corazón
Que, llenos hasta el borde de estos ligeros sonidos,
Revientan discretos en una canción.

domingo, 18 de julho de 2021

La Fuente del Querer

Me acuerdo de una fuente
Cuyas aguas me decían
Con olas lentas
Que me querías
Como te quería yo,
Sencillamente porque
Era esto mi deseo.
Me querías porque
Echara la moneda del querer
Y hiciera la vida
Temblar;
Hiciera tu mirar
Quedar curioso
Sobre la vida
Que quizás tuvieras
Si hubieras querido
Quererme
Solamente en espíritu,
Como la fuente quisiera
Echar sus aguas
Sobre las piedras
Haciéndolas arena
En el infinito.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

El camino del cielo

Supe que era sueño
Cuando caminé sin amarras
Y mis huellas fueron grabándose
Muy fondo en la tierra gruesa.
Había en mis pasos el dolor del esfuerzo;
Pero no era la dolencia del daño,
Sino la prueba de la conquista.
Y el camino hizo mis pies estables,
Mis piernas fuertes
Y mi miente lucida:
Soñaba de cuerpo lleno,
De alma entera
Y corazón poblado de ganas.
Y, de pronto, ligero y fortalecido,
Hice camino por los cielos
Construyendo mi carretera
Con ladrillos de puro aire,
Pues había en el sueño un espíritu
Que me trenzaba alas nuevas
Con plumas hechas del dulce nada -
La misma materia con la que
Se hacen los mitos,
Las revoluciones
Y la poesía de mis palabras.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Linha quatro

Pega a linha quatro e desce
Em direção a quê?
A linha não amortece
Nem pretende arrefecer;
É morte que não aparece
Só acontece
Escondida no viver.
Pega a linha sete
Que essa sim te dá prazer
Te arranca fora as tripas
Te fazendo enlouquecer.
E, quem sabe, fazendo a prece
Vai que a fortuna não te esquece
E afortunado,
Roto e rasgado
Você ainda vai se fazer.
Pega a linha dezessete
Que liga na ponte do desfazer.
A ponte liga com nada,
Mas me esclarece:
A essa altura
Quem é que algo
Vai se querer?

sábado, 12 de junho de 2021

Frêmito

Eu estranho o poder
Com que eu me estranho.
De repente digo:
"Eu fui feliz.
Eu sei que fui.
Mas quando?
Como?
Onde?"
E então me plumo
E subitamente subo
Desaparecendo aquele mar profundo
Onde rocha
Absorto
Me infundia.
Subitamente me confundo
Ou
Me aprumo
Talvez...
Subitamente sumo
Ou me encontro
Ou talvez o sentimento
Seja essa linha
Que vibra
Sob a pluma
E
Se não vibrasse
Nem linha seria,
Tão fina a bruma
Tão densa e cúrcuma
Empoeirando meus sensos
Com seu olor
Agúdo
Doce
Cálido
Calmante
Contradito
Silenciosamente agoniante
E então infante,
Trêmulo como a pena
Que carrega o mundo
Bambeante sob o peso
E ainda assim firme
Talvez até constante
De inconstância itinerante,
Um frêmito no paço
De colunas inquietantes
Que é meu peito
Minha mente
Meus átrios
Que 'inda agora oscilam.
Oscilando...
Oscilando...
Indo e vindo...
Cá dum...
Cá dum...
Cá dum...
E, logo abaixo disso,
Nada.

domingo, 16 de maio de 2021

Amor de nada


(Yumeji's Theme - Shigeru Umebayashi) 

Tengo un amor
Y no sé para qué;
No sé para quien.
Quiero en secreto,
En sentidos mezclados
Que se pierden entre mis nadas,
En los momentos en los que la respiración
Callase.

...

Cuando la mirada
Se pierde
Y mis sentimientos
Ya no conozco.
Amo en olvido,
Como mientras te he querido.
Pero si fueras tú mi destino final,
Creo que ya lo habría sabido;
Mientras tanto, yo nada sé;
Y ya no quiero como quise.
Mi oído no más oye el canto tan lleno de ganas
Del largo silencio del mundo que hace mucho ha partido.
Mis rotos cristales no más pueden que colgarse
Desdé sus sencillas cadenas de transparencia
A ojear el mundo girando,
Bailando
Y cantando
Los cantos tristes que llenan la vida
De amor.

sábado, 15 de maio de 2021

He todas las cosas

Creo que hay una llama
Quemando casi sin ruido
Bajo el agua que corre en mí.
Creo que hiérveme
Despacio y lucida,
Ardiendo el motor del corazón
Hasta el rumbo de su deseo
Sin siquiera darse cuenta.
Y, mientras eso,
Corre bajo mi fuego
Un río perezoso y fresco
Cuyas aguas dan vueltas en mi cuerpo
Refrenando el demasiado calor.
Hay en mí la perennidad de la tierra
Y el olvido del viento;
Hay las simples cosas del todo
Y la infinita riqueza del nada;
Hay fuerza y incertidumbre,
Belleza y dolor;
Hay yo y vosotros;
Identidad y vacío.
Hay tantas contradicciones
Que de mí solo se podría decir:
He aquí una pareja sola
De todas las cosas
Que la vida ha querido vivir.

sábado, 1 de maio de 2021

Membrana

Encontro nas membranas do meu movimento
Um contratempo
Que me inverte e desacelera.
Estranho que ele esteja tecificado
Na minha trama -
É como se eu fosse
O meu próprio contrapeso;
Como se por natureza
O corpo me falasse
Que as escolhas,
As ideias,
O pensamento
Têm limite
E chegam até o ponto
Que a camada transparente,
Esponjosa e oleosa
Os permite.
Depois disso, é retorno.
Carrego na minha carne
A contradição inata
Da verdade que concebe
Sua própria negação:
Se falo,
Num instante sou mentira;
Se calo,
Num rompante sou barulho;
Se ando,
Em seguida descaminho;
E se paro
É muito pouco -
Logo avanço,
Roço o rosto
No balanço
De a todo instante
Equilibrar-me
No desvio do saber:
Eu sei
E, logo,
Por saber
Eu já não sei.
Está pensado,
Está errado.
E retorno ao estado
De errante tez poética,
De animal,
De insensatez -
De insensata forma ética
De quem ínfima membrana
Concatena-se prolixo,
Contradito em hibridez.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Los Collares de Fuego

Llevo mis dolores colgados al cuello
Como recuerdos de lo que viví;
Caen ardientes contra mis pechos
Haciendo circulos brillantes de fuego
Que queman andariegos bajo mi piel.
Soy como la tierra punteada de diamantes
O aún como el cielo incrustado de estrellas:
Soy carne, arcilla y candela,
Masilla moldeable de existencia
Hecha jarrón de secreta latencia.
Y así que 
Para mover mis collares de cuerpo,
Para coger mis amores de suelo
Y conocer mis temblores luceros,
Se necesitan palabras de nada,
Manos de agua
Y ojos de viento.

sábado, 10 de abril de 2021

A Igreja da Vida

Confesso que não sei
Se sei o que quero,
Se como quero
Se outro infinito lero
De palavras enroladas
Como bonfins
Ao redor de mim
Ninando-me um aperto
Que se me faz carne
E ameaça meu peito
Brotando de dentro pra fora
Dizendo-me tudo que sei
Que não sei,
Não vivi,
Que não sei se viverei...
Todas as infinitas monções
Que não me farei;
Todas as infinitas cauções
Que me causarei.
Confesso que me enrosquei
Nessas lindas palavras de nada
E o nó se me converte em espantalhos.
Não sei...
Confesso que só não sei.
Não sei o verso que vem a seguir,
Mas ele parece tão sério,
Tão sem sentido e estéril
Pulsando um anseio
De milhões de esmeros
Enquanto a realidade
É tão débil...
Tão débil...
Tão perdidamente débil.
Tão ignóbil e
Suportável
Que quase não quero.
Quase...
E essa beira de monastério,
Esse desfiladeiro contra o qual me tolero...
Há dias em que por ele
Eu não me clero.

sábado, 6 de março de 2021

Creio

(Los Panchos - Poquita Fe)

Creio
Que encontrei em mim
O lugar da fé.
A fé, no entanto, ateia,
Que se conhece,
Sabe suas raízes efêmeras
E as aceita contradita em paradoxo.
Creio em ti,
A abstração que és;
Em ti, minha mente, que terceirizas
Os teus extratos mais difíceis,
Inacessíveis,
Impossíveis.
Creio no impossível da contradição,
No absurdo da humanidade
E no encontro dos extremos
Que são nada além do mesmo.
Creio em esmiuçar esse abstrato
E procurar nele
Os sinais concretos de frutos maduros
Prontos para serem colhidos
E lavados
E provados
Para me nutrirem de vida nova,
Nova matéria que sou
Refeita a todo instante
De místico alimentar.
Creio no nada
E em suas propriedades holísticas
Me inventando recriado
A cada misterioso sopro tênue do vento
Que entra nos pulmões atribulados
E os enche de um vazio tão cheio
Que me sinto transbordar.
Creio na vida,
Mas sobre isso é melhor nada falar.
Pois a vida recobre o abismo
Com uma fina camada intocável
Que, se falada, desfaria.
Prefiro contemplá-la
Oscilando através de sua membrana,
Sentindo seu leve carinho me vibrando
Um timbre desachado
De ondas invisíveis.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

El dulce sonido del nada

(Los Panchos - Lo Dudo)

¡Que falta me hace el amor!
Quisiera tenerte en mis brazos...
Tenerte a ti, ¡quienquiera!
Quisiera hacerme tuyo
Y hacerte mío
Y hacernos tan sencillamente uno
Como lo es el aire,
Que no existe
Pero aquí está
Tocandome indecible
Sin sonido más que su pasar.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Subitamente me descobri livre

Subitamente me descobri livre.
Foi estranho...
A liberdade me soou como uma estranha prisão
Onde eu me vi trancado para fora de mim mesmo.
De repente aquele conforto que eu me criara
Para me blindar da vida externa
Desmoronou em pedaços
E eu me encontrei nu -
As cicatrizes expostas,
As estrias visíveis
E a barriga redonda sobrando ligeiramente,
Sua dobra rompendo a harmonia do corpo,
Mas ainda insuficiente
Para ocultar-me de mim as vergonhas.
Repentinamente encontrei-me ridículo,
Infantilizado,
Fragilizado e dependente,
Agarrado às minhas pernas num choro premente.
Encontrei-me como há muito não me encontrava
E tive em mim o desconforto de interagir com o desconhecido -
E o desconhecido era eu.
Mas não foi só isso que estranhei.
Ainda mais estranho foi descobrir-me no desconecto
Muito bem conhecido,
Como se, passados os instantes do encontro inicial
Entre meus eus,
A liberdade tivesse fundido
Um novo compromisso,
Uma nova compreensão mútua
E meus pólos se olhassem dizendo:
"Sim, é verdade, cá estamos, e sempre fomos assim.
Ontem mesmo me disseste isto,
E eu te respondi isso outro.
Em verdade não há nada de novo aqui;
Em verdade nada descobrimos
E descobrimos tudo."
Tudo que encontrei na liberdade foi estranhamento -
E o estranhamento me encontrou.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

O Trilho

Estranho como a mente tem vias
Que levam direto a sentimentos inesperados.
Estranho como o retorno a casa
Depois de uma noite de risadas
Traz uma inesperada tristeza,
Uma melancolia de monção
Que invade de repente
Sem causa aparente
E toma de assalto a emoção.
Estranho como o inconsciente
Manda comandos prementes
Que demandam embarcar
Num caminho de vivência
E autocompreensão.
Estranho como eu acabo entrando
Num trilho vazio que leva a nada
Olhando ao longe um destino
Que sei caminho certeiro,
Mas sabendo que a mim só compete
Ver aqui diante de mim
Os veios da madeira
E os longos gumes de aço,
E saber que são trilhos
E equilibrar-me em seus traços
Em meus passos
E agir como se compreendesse
O final da via
Quando tudo que sei
São seus mais singelos desvios.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Escamote


(Zbigniew Preisner - Offertorium)

As rochas
Que fui
Vão
Desfeitas nas intempéries
Das ondas e ventos
Que escamoteiam no movimento:
A brisa sopra -
E não mais;
A onda espuma -
E passa.
As rochas que fui
Vão sendo refeitas
Em ondulantes cata-ventos
Que voam gentis e suaves
Em danças errantes,
Descompassadas
No embalo do tempo.
As rochas que fui
São areia:
São grãos de pedra
Sólida e brilhante,
Minúsculas partículas de nada
Unidas em infinitude.
Sou rocha e sou água,
Sou forjada de fogo
E polida de vento.
Eu sou o infinito da vida
No finito do alento.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Imagenizado

Eu me lembro de tudo
Como se fosse hoje
Inventado e revivido,
Recontado num novo tom
Mais dolorido e belo,
Como se esse tudo
Se estivesse passando em conjunto,
Harmonizado no ritmo do meu translado
De mim ao eu-imaginado.
Mas eu lembro,
Eu me lembro...
Eu me lembro dos detalhes,
Suas cores envelhecidas ao contrário,
Realçadas de tempo,
Vibrando através da tela da mente
Fazendo tremer meu corpo
Na estática nervosa do seu sopro.
Hoje as minhas sinapses estão velhas,
Carcomidas de excessivos choques,
Acostumadas aos descarregos
- Nada as parece perturbar.
Só mesmo um balanço nostálgico
As pode embalar;
Só mesmo o impossível rememorado
Me pode despertar do torpor
E acordar mente e corpo num só descaminho.