Desde sempre
Amor,
Mas não me conhecia.
Eu já entretinha
Essa velha sabedoria
No andor,
Mas de seus bordados não sabia
Os significados.
Eu seguia as escolas de amor
E me perdia em suas linhas:
As tragédias me doíam,
Os romances não convinham
E o realismo destruía a própria essência que mantinha.
Foi a modernidade que me entortou,
Eu dizia.
Cria a mente velha,
Fora desse dia-a-dia,
Mergulhada numa latência mais profunda,
Uma busca arredia
De propósito que o mundo descuidou.
Eu não sou daqui;
Eu não pertenço,
Mas não esqueço o passado
De que outra vida me dotou -
Ele está ali, doendo
Na lembrança de querer
O que em mim nunca brotou.
Pobre, pobre jovem
Que tive que enfrentar a solidão
Da modernidade
Para me encontrar.
A bem da verdade,
Eu não fazia ideia
De como me pensar
E recostava sobre o outro
Procurando apoio e alegria.
Mas o amor nunca foi externo.
Amar amor amoroso
- Não desses descalabros que se escutam por aí -
Faz uma curva mais esguia:
Primeiro entra e circula no pulmão
Pra só então, bem aquecido de vida,
Soprar no outro a emoção.
Amar é totem que te guia,
É a própria tapeçaria
Da tua composição.
Amor e solidão, eu te diria,
Andam juntos nessa Terra,
Pois o amor só se descobre por inteiro
Na casa vazia
Onde possa às suas raízes dar vazão.
Amor é mais que companhia -
É acompanhar-se todo dia
E assim ferver uma energia
Que vaza da palma da mão.
Como é tênue a lã que fia
A diferença entre amor e desilusão!
Tantos nunca a encontram -
Morrem no caminho
Ou passam a vida em desacalanto,
E quem chega lá pode tão facilmente desfiar...
Mas eu não desencanto
Da jornada de amar.
Eu canto todo dia o pranto da melancolia
Que alivia a minha dor;
Como marinheiro em romaria
Eu reconto a história de vida
Que a esse canto do mar me navegou,
Pois repetida a alegoria
A tristeza aos poucos se sublima
E condensa em felicidade
Sobre o conto que em mim ficou.