domingo, 27 de dezembro de 2020
A Resignação
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
Retorno ao tempo
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
Narra e Te Vá
sábado, 12 de dezembro de 2020
Todos os caminhos levam a Roma
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
O Caminho dos Céus
quinta-feira, 3 de dezembro de 2020
Guia
Eu sigo as luzes que me guiam
Pelos caminhos que elas me fiam
No puro ar da noite estrelada.
Suas linhas são tão finas
Que contra o fundo do escuro infinito
Sequer aparecem -
Quão translúcido é o seu tear!
Mas com os olhos dos pés eu as sinto
E caminho sobre o invisível do espaço.
Eu sou o andarilho noturno
Romando por entre o breu
Que preenche a imensidão dos céus.
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
Meu Tempo
Meu tempo
Meu tempo...
Devo sempre me lembrar
Que meu é o tempo.
Minha é a obra de vida
A linha torta e garranchada
Que se fia em poesia
Escorrida da borda da mesa
Meu vaso de água doce e inodora
Que verte num instante
E jaz perene no assoalho
Na madeira
Na seiva que sobe
E floresce
E deságua em néctar
E suor das folhas.
Meu tempo
Meu tempo
Meu tempo...
Meu é o segredo
Meu é o trago de sossego
Meu é o toque
Que sente as folhas secas
As pedras do caminho
E a brisa fresca
Que escalam debaixo da pele
No corpo que sente o mundo
E o mundo que o sente.
Meu tempo
Meu tempo
Meu tempo...
Meus são os olhos que deito
Sobre a terra em que me recinto
Meu é o vagar de pupilas lentas
Que escolhem parar
Sobre as coisas mais vagas
E insignificantes
E significadas
Que a minha mirada foi desencontrar.
Meu tempo de ser
Meu tempo de amar
Meu tempo de desenganar
Meu tempo de me desarmar
Das armas de tempo
Que me quiseram forjar
Contando histórias
De um tempo que eu não quis passar;
Agora é meu tempo
E nele eu me descompasso
Em tempos outros
Menos escassos.
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
A Fenda da Porta
sábado, 10 de outubro de 2020
Meu Pecado
terça-feira, 6 de outubro de 2020
O Rumo
domingo, 4 de outubro de 2020
Vozificado
Quero botar no papel a matéria do silêncio
terça-feira, 29 de setembro de 2020
Intempério
segunda-feira, 28 de setembro de 2020
As Águas Profundas do Silêncio da Alma
Com essa mania de esgueirar suas mãos
sábado, 26 de setembro de 2020
O Zumbido
Noto um desafino tinindo agudo
Na antecâmara esquerda do peito,
Vibrando na catedral de mim por inteiro
Um lamento de idades passadas
Ou terras distantes
Ou casas vizinhas,
De campos por arar estendidos longânimes debaixo do sol,
De vigílias por guardar em muralhas fronteiriças no luar,
De enganos por me contar na correria paulistana,
De monastérios onde me consagrar a votos de silêncio
E ruas onde me lançar de novo a andanças desencontradas.
Sou como a cigarra
Zumbindo encantada na madrugada
Lembranças que ficaram por cantar
Sem consciência do que canta
Porque a vida é serenata
Em todo canto dessa Terra
Sem se ter por que cantar;
Sem a quem, sem nada mais por encontrar.
A vida contemporânea é o desengano do encontro:
Quando enfim localizada
Quer perder-se num canto diferente,
Pois que aqui
- Como em outro qualquer canto -
É mui difícil de cantar.
quinta-feira, 10 de setembro de 2020
Toda ilha é um homem
Toda ilha é um homem.
Coberta de espessa penugem
Ela respira pesadamente
Afastando o mar no seu trago arfante
E mergulhando nele ao expirar.
Ela recita pra si as lembranças do dia:
Duas xícaras que fumegaram nuvens no céu
Zarpando entre aqui e acolá
E um corcel que relinchou indomável
Debaixo do oceano, mas
Fora isso
Nada de muito importante.
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
As Marés
sábado, 1 de agosto de 2020
A Fenda
terça-feira, 28 de julho de 2020
Os Sonhos dos Reis
quinta-feira, 16 de julho de 2020
Dormência
Como se o sangue já não corresse sob a pele -
Mas não esta epiderme que sinto contra o caderno. Não:
É a derme da alma que jaz dormente
De um sono mordido e sugado
Sem beijo de redenção.
É o sono profundo do espírito
Que hiberna para se preservar
Da seca do mundo, da seca das almas,
Da seca da própria vida
Que se me parece retroceder
À mecânica do sobreviver.
Sinto morrer a utopia
O desejo
O próprio fogo quente da alquimia
Em nome dos olhos secos
Que possam resistir ao olhar da Medusa -
Se bem que talvez este seja o sentimento de petrificar.
A verdade é que a morte há muito venceu,
Instaurando seu breu sobre a vida
E cobrindo de cova a alegria.
A verdade é que o horror já nos acometeu de paralisia
E o espírito humano se perdeu.
Mas...
Talvez ainda agora, invocado por nome,
Ele tenha tremido debaixo da terra inerte de mim.
quarta-feira, 24 de junho de 2020
Os muros de Jericó
E talvez 2020 não seja a marcação ideal.
Por um momento cogitei que nem saímos de 2013
Quando de vez nos rachamos,
Mas nem isso parece real.
Lembrei que foi em 2008 a crise que desenhou
Nosso estado de sítio econômico
Que até aqui perdurou,
Mas também ele nasceu das entranhas de um 2001
Onde o terror impeliu que cedêssemos grandes poderes
Ao Estado que nos traicionou
Em favor de interesses especulativos.
Porém, nem isso me bastou.
Pois a semente de 2001 foi plantada em 89 e 91,
Quando a morte do comunismo deixou aberto o caminho
Para novos inimigos espreitarem o imaginário popular.
E se isso foi verdade, só o foi porque em 39
O nazismo tomou seus primeiros passos rumo ao distúrbio do mundo
Que eventualmente incorreu no seu próprio esfacelar.
Mas 39 foi filho da crise de 29,
Que por sua vez nasceu da Grande Guerra,
Que ela própria veio das revoluções disformes do século XIX,
Quando os Estado-nação - e o Brasil - se gestaram
Em conflitos de classe, de terra e de servidão.
E se tais processos surgiram, foi apenas porque em 1789
Eclodiu a primeira Revolução -
Se bem que cem anos antes também viera a Gloriosa
Embasada nos Cercamentos que gestaram o Capital
E nele todo o processo que nos distribuiu de forma tão desigual.
Mas eis que até mesmo os Cercamentos
Foram filhos de glórias outras - quando Elisabete venceu a Armada Espanhola
Tomando à Inglaterra os louros da hegemonia;
Hegemonia esta que a própria Espanha tomara de Portugal,
Que por aqui se firmou pelos idos de 1500.
Portugal que, aliás, se empoderou com o declínio das cidades-Estado italianas
Quando os otomanos ocuparam Constantinopla em 1453,
Enquanto elas, por sua vez, só cresceram (à despeito da Peste Negra)
Graças às novas rotas abertas pelas Cruzadas, iniciadas em 1096.
As Cruzadas que, sancionadas pela Igreja, só se puderam concretizar
Porque outrora Carlos Magno se propusera a Roma resguardar -
Isso só sendo possível já que seu avô Martel preservara a França da invasão Moura.
Parece, então, que até hoje o Ocidente guerreia o Oriente como em 732.
Ou talvez ainda sejamos romanos lutando para acreditar
Que o Império não se findou nas mãos de Odoacro em 476.
Se bem que o que é, afinal, ser romano?
Qual das vertentes cristãs lutando por dominação
Representamos no Sínodo de Milão?
Ou ainda nos cremos pagãos, dos tempos em que morreu Cômodo
Deixando vago o Império que até hoje se corrói em dilaceração?
Ou, quem sabe, estes sejam os frutos do golpe Augustano
Contra a República e o Senado - supostamente do povo -
Que representavam a natureza real do autêntico italiano?
Talvez, pior, este seja o mundo que resultou da derrota de Haníbal em Zama,
Ou dos fracassos de Pirro, ou da cobiça de Atenas
E a destruição da glória dos gregos!
Quem sabe isso tudo não seja a má-fortuna de Dario
E da Pérsia que desejou uma Grécia além do seu alcance.
Quem sabe isso tudo não seja ainda a crise do Bronze;
Quem sabe não somos faraós construindo Pirâmides
Sobre os corpos inúteis dos filhos da terra;
Quem sabe se nunca fora inventada a Escrita de Ur -
Ou talvez se Jericó nunca tivesse sido erigida...
Quem sabe se a agricultura não tornasse a humanidade à terra cingida...
Quem sabe aí, então, quedaríamos livres!
Talvez isso tudo ainda seja a luta entre duas tribos
Por abrigo e água fresca.
Mas aí já é estranho pensar que assim seja...
Pois, havendo hoje tamanha riqueza,
Faltaria explicar, afinal, por que após tanta História,
Tantos inventos e tanta glória
Ainda existem entre nós faraós nas Pirâmides envidraçadas
Dentro de Cercamentos escusos
Sobrevivendo a crise após crise com recursos de Estados falidos
Que nos vendem racismos antigos (mas bem polidos)
Feito os muros invisíveis de Jericó.
terça-feira, 16 de junho de 2020
Alquimia de um sopro quente
segunda-feira, 25 de maio de 2020
Talvez hoje eu deva falar sobre a chuva
Talvez hoje eu deva falar
Sobre a chuva
E seu cheiro de capim.
Talvez hoje eu deva cantar
Os floreios que ela melodia num lago,
Ou nas folhas, no asfalto,
No meu telhado
Ou em mim.
Talvez essa noite eu me deite
E ela ecoe constante
Pela minha janela aberta pro mundo.
Talvez amanhã eu acorde
E seu tom de lamúrio manhoso
Me convença a continuar
Mais um pouco
No banho de sonhos
Preparado pra mim.
Talvez ela me recorde
Do toque da terra úmida
E do fino suporte
De que me fiz;
E como me quis
Essa Terra, essa sorte
De ter me molhado,
Inspirado, amado
E sido feliz.
sábado, 23 de maio de 2020
Desencontro
domingo, 17 de maio de 2020
Ouvi o silêncio do mundo
segunda-feira, 27 de abril de 2020
A Visão
segunda-feira, 20 de abril de 2020
O Sonho
domingo, 5 de abril de 2020
Anunciação
Falta controle
O eu que ocupa o corpo.