Tremeluzindo na desilusão de cores da mata.
O chão rugia silencioso no seu passar
Um prenúncio de poder e infinita calmaria.
As garras de Trama arranhavam o solo
Despindo-lhe a dureza e regenerando em adubo.
A dança esguia por trás da ramagem
Se confundia com o olhar penetrante
Que numa repentina aparição causava paralisia.
Quis um dia o destino que Trama seguisse
Pelo jardim da clareira Utopia
E lá seus olhos de abundante tremor e vida
Avistassem uma rosa arredia.
Ali jazia o mito: outra cria do tempo
Tão forte e delicada quanto Trama
Balançando suave nas curvas do vento
Com um único grande olho girando no mundo
Até que sua íris cruzou com as pupilas do tigre
E num encanto avermelhou-as.
Trama se aproximou
E com um leve gesto tocou o focinho em suas pétalas
Tragando sua coloração.
Embriagado no perfume da rosa,
Beijou-a.
A rosa, porém, escondia um espinho
E no beijo ele se envenenou
Enquanto suas presas arrancaram as pétalas da flor.
Machucado e para sempre marcado,
Com olhos vermelhos Trama se retirou.
Eis, pois, que nem sempre o poder e a delicadeza
São suficientes para uma história completa compor.